Caio Luizetto,
Reflita
Inculturação - Evangelização e Cultura
Para Niebuhr, escritor do clássico Cristo e Cultura em 1951 e considerado “um dos livros cristãos de maior influência do século passado” a reflexão sobre a dinâmica de Cristo e Cultura é uma luta que a igreja enfrenta continuamente, esse fato fica evidente ao notar a relevância do tema na influência de suas palavras em outros escritores, como a própria releitura de Cristo & Cultura: uma releitura (D. A. Carson), O cristão e a cultura (Michael Horton) e A igreja na cultura emergente (organizado por Leonard Sweet), livros que sofreram fortes influências das reflexões de Niebuhr. É nesse cenário que imerge com importância a reflexão sobre a inculturação, que nada mais é do um equacionamento moderno de um problema antigo. Apesar de ser um termo recente no ambiente teológico apossado pela teologia católica, traz consigo grande contribuição para reflexão missionária. Sua origem se dá em 1974 no seio dos jesuítas indianos que possuíam um anseio por criar um jeito indiano de praticar o cristianismo, pois perceberam com a descolonização, que os cristãos de sua pátria tinham se europeizado nos nomes, na língua, nos trajes, no estilo de vida, deixando assim a cultura indiana.
Mesmo que de forma não tão clara, percebe-se no desenvolvimento da igreja contemporânea alguns questionamentos em sua visão missionária, e o conceito da “inculturação” começa a se impor de forma significativa nas rodas teológicas atuais, pois refere-se a relação da fé com a cultura, abarcando consigo um diálogo enriquecedor e de reciprocidade onde a fé recebe das culturas tudo o que cabe para a edificação da vida cristã, mas também a fé propõem o evangelho como fator purificador de toda e qualquer cultura, ou seja, é um relacionamento de reciprocidade, do Evangelho relativamente à cultura e da cultura para o Evangelho.
A inculturação tem por objetivo que o evangelho se converta num princípio inspirador, normativo e unificante, que transforma e recria esta cultura, dando origem a uma nova criação. Sua proposta não é simplesmente tornar o cristianismo mais atraente a cultura local, parece-me que Horton ao descrever a escolha de Niebuhr tinha a proposta da inculturação em sua mente, um Cristo transformador da cultura, definido em sua abordagem como “cristãos transformacionais”, pois não desejam simplesmente batizar a cultura, mas querem transformar o mundo, tornando-o melhor, não têm a ilusão de que este mundo seja transformado em um Paraíso pelo progresso humano, mas estão ansiosos para ver a mão de Deus na cultura.
O processo da inculturação acontece a longo prazo e deve-se ter muito cuidado em vive-lo, pois não se deve desqualificar a cultura e nem reduzir a integralidade da fé, a inculturação exige discernimento para que não haja prejuízos a fé. Quando a igreja se incultura torna-se um sinal mais claro e um instrumento mais apto para a missão, pois não está presa a nenhuma estrutura étnica, linguística ou cultural, mas aberta a pluralidade do mundo, e ainda sim procura permear as culturas com o evangelho.
A inculturação tem como proposta igrejas locais com seu próprio rosto, com uma mentalidade e organização que brote da cultura onde se estabelece, eliminando assim vivencias missionárias triunfalistas e etnocêntricas. Uma igreja missionária e peregrina vai na direção a interculturalidade, fazendo com que o Reino de Deus emerja de dentro da vida, na história da cultura em que chega a comunidade missionária.
O pensamento missiológico pós-moderno expõe a necessidade da busca em conhecer as culturas e seus componentes em suas essências; compreendendo e apreendendo as suas expressões mais significativas, respeitando os seus valores e riquezas próprias. Deste modo, a visão missionária poderá propor a tais culturas a busca pelo conhecimento e ajudá-las a que façam surgir de suas próprias tradições vivas expressões originais de vida, de celebração e de pensamento cristãos.
Caio Luizetto
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