Caio Luizetto,
Reflita
Cristianismo e a Cultura Contemporânea
Parece-me que muitos são os questionamentos e desafios sobre como desenvolver uma espiritualidade autêntica e influenciadora em tempos tão difíceis, tudo muda rapidamente, os avanços tecnológicos, os relacionamentos cada vez mais líquidos e inexpressivos, segundo Synesis (2012) a pós modernidade trouxe consigo um contexto de luzes e sobras e de grandes desafios. A secularização manifestou-se com a marginação da religião e o indiferentismo religioso, as mudanças culturais e suas influências estão cada vez mais evidentes na sociedade e na igreja brasileira. Parece que fomos nocauteados pela pós-modernidade, estamos cada vez mais inexpressivos e ofegante. Isso torna-se visível nas oratórias de nossos púlpitos, que em busca de uma justificação para a falta de expressão procura-se fundamentos bíblicos para justificar tamanha desatenção a uma cultura mutável e questionadora, uma cultura que não acomoda-se com exposições superficiais e infundadas de uma igreja que busca o domínio do homem e não a sua liberdade. Mas não seria o momento oportuno para a fé oferecer respostas as demandas contemporâneas? Porque não conseguimos oferecer respostas a pós-modernidade?
As respostas em sua maioria não surgem ou são inexpressivas, pois a igreja brasileira está submergida na deformação do evangelho incitada pelo condicionamento ideológico de uma fragmentação do homem e a sua restrição a uma esfera “espiritual” que desconsidera completamente o homem e sua cultura questionadora, tornando assim o diálogo do homem com a cultura e a fé ainda mais conflitante.
A falta da percepção do cristianismo brasileiro contemporâneo, do indivíduo como um ser integral, que faz parte de um mundo, que está inserido em uma cultura “glocal” (global e local) tornou ainda mais acentuado o dualismo existente entre o homem e cultura, erigindo muralhas de sacro e profano.
A igreja brasileira tenta ser relevante construindo seus guetos, mas de que forma a fé poderia ser ou tornar-se relevante em uma sociedade pós-moderna sem interpretá-la e valorizá-la? Hesselgrave (1984) diz que contextualizar a mensagem é manter a fidelidade do evangelho, e ao mesmo tempo aplica-la a diferentes contextos de forma inteligível e relevante.
A pós-modernidade mesmo que involuntariamente, testa a envergadura da Igreja no seu relacionamento com o mundo o qual está inserida, quais são as respostas que a Igreja tem para o contexto de luzes e sombras sem produzir uma subcultura devastadora do homem integral? Qual a relação entre o cristianismo bíblico e a mutável realidade cultural do mundo ocidental?
Em uma breve apreciação observa-se que a igreja brasileira tem se tornado cada vez mais dualista pois fortalece a cada dia o conceito de que o “deus bom” criou tudo perfeitamente e passou o domínio de tudo o que criou para a administração do “deus mau”, sendo esse “deus mau” o responsável pela cultura atual, a tornando-a fruto da perdição, ou seja, existe um abismo entre a cultura e o evangelho.
O que a igreja brasileira precisa de fato é impregnar na sociedade não cristã deixando seus guetos, ou seja, introduzir-se de forma gradual, repassar-se, infiltrar, deixando nossos guetos eclesiásticos, não só anunciando o evangelho mas dando expressão visível ao evangelho em sua integralidade (RAMOS, CAMARGO, AMORIM, 2009).
Talvez o melhor remédio para o momento seja a contextualização da mensagem, ou seja, anunciar o evangelho de forma relevante, ao ponto de que Cristo não seja abstrato, mas algo determinante na vida do indivíduo e critério básico em relação aos valores culturais. Nesta direção, observemos as ponderações de Lindório (2014) que afirma “...que o valor do evangelho está totalmente associado a compreensão da cultura do povo receptor. O contrário seria apenas um emaranhado de palavras que não produziriam qualquer sentido sociocultural”.
O evangelho se torna expressivo em uma sociedade quando os que fazem uso dele entendem os contornos emocionais e intelectuais do lugar onde atuam, tendo uma visão bem definida em como aplicar o evangelho à cultura e ao momento histórico, não tendo um olhar voltado apenas à base doutrinária, mas olhos que examinem o entorno, o momento histórico e a localização cultural (KELLER, 2014).
Homens como Keller (2014) dizem que o verdadeiro segredo de um evangelho relevante e uma igreja que impregna um povo, não está em pacotes prontos de metodologias, mas na capacidade de entender bem o coração do ouvinte e sua cultura, pois este é impactado e desafiado pelo sermão.
Finalizo a reflexão propondo uma reflexão nas palavras de Lindório (2014) “Compreender o universo cultural do indivíduo ou da comunidade que receberá essa mensagem é essencial para assegurar uma comunicação inteligível e relevante”.
Caio Luizetto
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